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A Internet e a IA Realmente Prejudicam a Memória? Cientistas Dão seu Parecer
Um relatório recente da Nature explora o impacto da tecnologia digital e da IA na memória humana, desafiando os medos de que a internet esteja erodindo as habilidades cognitivas.
Com pressa? Aqui estão os fatos rápidos!
- Estudos mostram que a IA e o GPS alteram a forma como as pessoas se lembram das informações.
- Resumos gerados por IA podem inflar a confiança dos usuários em seu conhecimento.
- Daniel Schacter de Harvard diz que não há evidências sólidas que vinculem a tecnologia ao declínio geral da memória.
Enquanto motores de busca, GPS e ferramentas impulsionadas por IA moldam a maneira como as pessoas aprendem e se lembram, pesquisadores argumentam que as afirmações exageradas sobre o declínio da memória são superestimadas.
A Nature relata como o psicólogo Adrian Ward, da Universidade do Texas em Austin, experimentou em primeira mão o quão dependente ele se tornou da navegação digital. Após uma falha que o deixou sem o Apple Maps, ele se encontrou perdido em partes familiares de Austin. “Eu simplesmente instintivamente ligo o mapa e faço o que ele diz”, disse ele.
Essa dependência da tecnologia levou a preocupações sobre a ‘amnésia digital’, um termo cunhado por uma empresa de software para descrever o esquecimento de informações porque estão armazenadas em um dispositivo. A Universidade de Oxford até nomeou ‘brain rot’ – um termo para declínio mental devido ao consumo de conteúdo online trivial – como sua palavra do ano em 2024.
No entanto, estudos apresentam um quadro complexo. Algumas pesquisas sugerem que a tecnologia altera as tarefas de memória: por exemplo, os usuários de GPS se lembram de rotas de maneira menos eficaz. A Nature informa que o próprio estudo de Ward descobriu que pesquisar informações no Google aumenta a sensação de conhecimento das pessoas.
Mas a especialista em memória Elizabeth Marsh da Universidade Duke refuta alegações extremas, chamando-as de “exageros”, conforme relatado pela Nature.
Com a IA agora integrada aos motores de busca, seu impacto na memória pode ser profundo. Marsh observa: “Essa coisa toda de ChatGPT é outro nível de tecnologia que é realmente diferente de apenas digitar no navegador do Google, ‘Qual é a capital de Madagascar?'”, conforme relatado pela Nature.
As preocupações incluem a IA incentivando a preguiça cognitiva ou até mesmo implantando falsas memórias. Avatares digitais de indivíduos falecidos — os chamados ‘deadbots’ — também poderiam remodelar as lembranças pessoais. “É uma espécie de remontagem de um passado que nunca experimentamos”, diz Andrew Hoskins da Universidade de Edimburgo, conforme relatado pela Nature.
A ideia de que a internet enfraquece a memória ganhou força após um estudo de 2011 da psicóloga da Universidade de Columbia, Betsy Sparrow. Os participantes de seus experimentos eram mais propensos a lembrar onde armazenaram fatos online do que os próprios fatos, um fenômeno apelidado de ‘Efeito Google’, conforme relatado pela Nature.
No entanto, tentativas posteriores de replicação produziram resultados mistos, provocando debate sobre as conclusões do estudo.
Ward vê isso como parte do ‘descarregamento cognitivo’, no qual as pessoas delegam tarefas de memória a auxílios externos. Isso pode ser benéfico, liberando recursos cognitivos. No entanto, resumos gerados por IA nos resultados de pesquisa podem fazer com que os usuários confundam o conhecimento online com o próprio, criando uma confiança mal colocada, diz a Nature.
Embora estudos confirmem que a tecnologia afeta a memória para tarefas específicas, Daniel Schacter, de Harvard, afirma: “Há muito pouca evidência de que essas tecnologias estão causando um declínio mais amplo na memória”, conforme relatado pela Nature.
Em vez disso, pesquisadores sugerem que o crescente excesso de informações – e o envelhecimento natural – podem estar contribuindo mais para preocupações com a memória do que a própria internet.
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